(esperei passar os dias criticos, aqueles em que a imunidade cai muito, para escrever)
Talvez esse seja o post mais esperado mesmo sabendo que o blog ainda vai longe mas acabar a quimioterapia é vencer a pior parte dessa batalha.
Não lembro se falei sobre isso mas meu maior medo, quando ter câncer ainda era uma possibilidade, era justamente a quimioterapia.
Lembro de só chorar e falar que eu não ia aguentar porque as pessoas que passavam por isso sofriam demais, aquilo tudo que a gente ouve por ai.
Talvez eu não tenha falado pra ninguém mas eu tinha quase certeza que não aguentaria.
Sempre fui muito mole, qualquer enjoozinho me deixava agarrada ao vaso sanitário, eu me entregava a qualquer gripezinha ... eu não ia conseguir :(
Veio o resultado da biópsia, já não dava pra voltar atras.
Eu tinha duas opções ou me tratava ou morria, não tinha o que pensar.
Deu uma reviravolta na cabeça da pessoa, não fazer quimioterapia não era uma opção, eu queria. Ja que eu tinha que passar por isso que fosse 100%, que fosse de "cabeça".
Bora matar qualquer vestigio desse bicho.
Perder o cabelo não me dava medo, alias procurei curtir isso desde que descobri a doença tanto que pintei o cabelo de vermelho e cortei curtinho.
O médico me disse que talvez eu nem precisasse de quimio mas como ele é super a favor eu nem pensei na possibilidade de não fazer.
Fui la, fiz e fui tão abençoada que foi super tranquilo:
- enjoos leves, nada de querer ¨morrer¨(ja tive enjoos bem mais fortes em dias de ressaca)
- zero vômitos (tirando o dia que eu comi a geladeira e fui no Mc Donalds, ambos depois de sair da quimio)
- nenhuma queda de imunidade que me impedisse de fazer alguma quimio marcada
- nenhuma internação
- zero febre
- zero perda de apetite (muito pelo contrario, diga-se de passagem)
- nenhum peso perdido (vários pesos ganhos)
- nenhuma noite de insonia
Conclusão: nenhum dos efeitos colaterais que me davam medo.
Passou, acabou.
Ainda tenho um tratamento longo pela frente: radioterapia, hormonoterapia por 5 anos mas o mais temido passou.
Enquanto escrevia esse post pensava o quanto minha vida tomou outro rumo, o quanto eu precisava ter esse bicho. Aprendi muito e se não fosse ele talvez eu ainda seria aquela Renata que eu era até entrar nesse turbilhão:
- aprendi a ter calma
- aprendi a ouvir
- meus medos diminuiram
- aprendi que não tenho controle de nada, de ninguem
- é cliche mas tive a certeza que só temos o hoje (aliás descobri que os maiores clichês são realmente verdadeiros)
- descobri o que é amor verdadeiro e que esse amor pode vir de onde a gente menos espera
- descobri o que é a amizade verdadeira
- (mais uma verdade) você só conhece quem são as pessoas que se importam com você quando as coisas vão mal. Gente que não falava ha anos se aproximou de mim assim como gente que eu falava toda semana nunca nem perguntou como eu estava.
- senti na pele que parente não é família
- aprendi que as amizades feitas pela tela do computador podem sim ser verdadeiras. Descobri que a maior afinidade dessas pessoas é o coração.
- consegui listar todos os meus defeitos e assim me dei conta do quanto ja errei com os outros
- aprendi que sozinho não somos ninguém e que ajudar o outro te torna mais forte
- cresci, amadureci e, pelo menos pra mim, me tornei alguém melhor
- minha crença de que só somos completos se estivermos em equilibrio corpo, mente e alma só se fortaleceu assim como a minha certeza que cabeça saudavel é um passo importante para a cura
- e o melhor de tudo: descobri, aprendi e vi o quanto é importante ter fé
Outro dia me perguntaram o que o câncer me trouxe de ruim, não soube responder.
Serio, eu não sei!
Foram tantas mudanças boas, tantas descobertas gratificantes que, juntando com minha reação positiva diante do tratamento, eu não consigo achar nada de ruim.
Talvez perder a sobrancelha? Talvez, porque a careca eu curti.
E de tudo que eu ganhei nessa fase o mais importante foram as amizades que eu fiz e que são especiais porque "só a gente se entende" e talvez se não tivesse passado por tudo isso jamais as teria conhecido.
Ainda vou precisar muito da força de vocês, assim como vocês vão poder contar muito com a minha.
Obrigada por essa união "de peito": Andreia, Beth, Camila, Renata, Sabrina, Silvania, Flavia, Cris, Karina, Valéria ...
(esqueci de alguem? Ah, vocês sabem que a quimio acaba com a memória né?rs)