sexta-feira, 11 de abril de 2014

O CÂNCER ME ENSINANDO SOBRE A VIDA

Ter que encarar o "bicho" é ter que encarar a vida como um todo, não tem jeito.
Não tem como passar pelo que eu passei, e ainda passo, e não reavaliar muitas coisas. Não tem como não "recalcular a rota", como costumo dizer, em cada área da vida.
Eu sempre fui muito crítica e às vezes até maldosa (não que fosse um comportamento que eu gostasse, algo que me fizesse bem mas era mais forte do que eu).
Julguei algumas (várias) vezes, sempre tive opinião pra tudo e claro que sempre queria que a minha fosse a certa.
Esse assunto foi levado várias vezes para a terapia mas nunca deu muito resultado ...
Quando comecei a usar o twitter, quando a rede social começou a fazer parte da minha vida, foi através de pessoas bacanas que conheci por la que fui vendo como esse meu lado não era legal e como as pessoas que fazem essas coisas me incomodam muito ... e olha que para que escrever esse texto estou só pensando em estética.
Criticas sobre cor do batom, formato de sobrancelhas, calça assim é feia, saia assim é brega, entre tantas outras coisas ...
Claro que eu entrei várias vezes na onda mas depois me dava o cinco minutos de lucidez e arrependimento.
Há alguns anos aconteceu comigo uma situação que eu deveria trazer sempre à tona quando resolvesse fazer algum comentário maldoso sobre os gostos das pessoas. Uma vez comentei com a menina que estava limpando um stand que eu estava trabalhando que estava com muito frio, que eu sou muito friorenta e não sabia como ela conseguia trabalhar com sandalias naquela temperatura. A resposta? "Frio eu sinto mas esse é meu único sapato" ...

Voltando à minha condição atual.
Estava outro dia com a Flavia Flores e ela me falou que iria postar na página dela, que é voltada para pacientes oncológicos, a história de uma mulher com câncer de mama e sua companheira mas que de certa forma ela estava preocupada com possíveis comentários homofóbicos.
Na mesma hora, eu com meu jeitinho meigo de ser, mandei: "pqp, as chances das pessoas que lerem isso na sua página terem tido, ou terem, câncer é imensa. Serio mesmo que nego recebe a morte na porta de casa e ainda vai ter tempo de ser homofóbico?"
Percebi que realmente ja estava revendo meus conceitos em função da doença, esse pensamento servia para tudo. Criticar comportamento, roupas, achar errado quem não é como você acha que deveria ser (oi?) depois de passar por uma doença que te coloca cara a cara com a mulher da foice? Que coisa pequena ...
Não deixei de ter opiniões, de ter gostos mas são meus e não são certos ou errados, assim como dos outros são pessoais e ninguem tem nada a ver com isso.
A vontade de escrever tudo isso surgiu no dia em que critiquei a roupa de uma pessoa em uma rede social e uma amiga "meique"me deu um toque de que aquilo não era legal, e eu, como estou mudada (mas não muito) ja tinha me arrependido da "brincadeira".
Bom, logo em seguida fui me trocar para sair e minha mãe fez um comentário, sem maldade tenho certeza, que eu tinha engordado muito. Sei que ela quis dizer que eu inchei pois essa é uma reação bem desagradável da quimio e realmente chama a atenção pois a 2 meses atrás eu era magra, porém, mesmo sabendo de tudo isso, fiquei bem putinha ...
Depois fui pintar minhas sobrancelhas ja que tenho apenas 5 fios de cada lado e são elas que me deixam (ou não) com cara de doente e fiquei bem irritada pq ficou "meicagada", pq da trabalho, pq não é facil desenhar à mão livre algo que até o começo do mês estava la.
Lembrei das cuidadoras da sobrancelha alheia que ja encontrei por ai  e parei pra pensar que quem olha pra mim na rua nem imagina que eu esteja fazendo quimioterapia, então será que aquela gorda na rua, aquela mulher de sobrancelha cagada também não está?
Quem de nós tem escrito na cara os problemas que está enfrentando?
Lembrei da menina dos sapatos, lembrei que ja vi gente dizendo que não ia almoçar pq estava de regime e na verdade não tinha dinheiro naquele dia.
Cheguei a conclusão que não virei Madre Tereza mas sim, o câncer esta me ensinando muito sobre a vida.



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