Não só para vencer o câncer mas para vencer na vida é preciso dos 3 "efes" básicos: Foco,Força e Fé mas o tempo me mostrou que um quarto "efe", o FODA-SE, é indispensável para tirar do caminho tudo aquilo que nos faz mal e não acrescentam em nada nessa caminhada que é tão incerta.
sábado, 4 de outubro de 2014
1 ANO
Dia 04 de setembro fez um ano da minha cirurgia. Lembrei do medo, do desconhecido, do soninho delicia da anestesia e do anestesista gato, pq né, TUDO realmente tem seu lado bom.
Não escrevi nada na época, aliás demorei pra postar alguma coisa no blog porque a medida que a vida vai voltando "ao normal" a tendencia é ir se afastando do assunto. É um movimento natural, nada proposital não, é somente o tal vida que segue sendo vivido na prática.
Foram os 365 dias mais doidos da minha existencia.
Não vou voltar no assunto de tudo que aprendi nesse tempo mas tive a certeza de como a vida ta passando rápido...
Apesar de tudo Deus foi generoso comigo nesses dias todos. Hoje eu vejo que fizemos uma troca justa: fui uma boa menina diante das provas que ele colocou no caminho e ele me presenteou em forma de novos amigos, novas oportunidades, novas experiencias ...
Esse ultimo mês foi o campeão em novidades:
- ajudei num projeto maravilhoso, que me deu oportunidade de conviver com pessoas que nunca imaginei, que voltou a estimular minha criatividade, me devolveu auto estima profissional (não estou trabalhando, ainda estou de licença mas me joguei num trabalho voluntario), me abriu portas para novas possibilidades; sem contar o lado social que leva para mulheres que estão passando pelo câncer mensagens positivas, exatamente aquelas que me ajudaram.
- participei de um quadro no Fantastico, pega de surpresa, que me mostrou que a gente recebe exatamente aquilo que da. É piegas? Sim! Mas oh, é muito verdade.
Terminei a entrevista falando para o reporter que fazer algo pelo proximo é bom para os dois lados e depois fiquei pensando, "nossa Renata que frase feita, que lugar comum" mas a quantidade de mensagens que recebi, de amor e carinho provou que sim, faz bem para os dois lados e pra mim fez muuuito bem.
- conheci pessoalmente pessoas que preenchem meu coração virtualmente e isso é um ganho e tanto nesse mundo louco que a gente vive
- fiz meus primeiros exames de revisão pós tratamento, e de acordo com meu médico minha saúde é de ferro :)
Agora entro numa nova fase, a fase de voltar a retomar o que ficou deixado de lado enqto o tsunami batia.
Preciso voltar a trabalhar, voltar a sair, voltar a me apaixonar e confesso que tudo isso da medo porque não sei o que me espera.
Não estou falando dos outros, estou falando de mim ...
Já não posso mais ser tão ansiosa, ser tão estressada, ser tão passiva ... ser tão geminiana.
Ainda tem muita coisa para digerir, muita lama pra limpar mas ai são cenas de um proximo capitulo ...
sábado, 19 de julho de 2014
UM DIA PARA SE PENSAR
Essa semana aconteceu uma coisa que mexeu demais comigo mas de uma forma bem positiva, bem lúcida e até madura, no dia em que acabei a radio, dia que acabei o tratamento, voltei na médica onde tudo começou.
Não deu para não pensar naquela "coincidencia".
Foi como um ciclo que se fechou, teve um começo, um meio e um fim, sim um fim, porque eu acredito e confio demais que ele realmente chegou.
Pensei nas mudanças da vida, na "Renata" que se foi e na "Renata" que nasceu.
Lamentei as perdas mas comemorei cada ganho (que foram vários, incontáveis eu diria).
Tomei consciencia que aprendi em um ano e meio o que não aprendi em 35 anos de vida.
Entendi coisas que antes não entendia, ou que eu não fazia questão de entender.
Me tornei um ser humano melhor sim (pelo menos para mim).
Aprendi sobre família, sobre amigos, sobre trabalho, sobre alimentação, sobre sonhos, sobre dedicação, sobre persistencia, sobre levar a vida de forma mais positiva.
Me tornei mais filha, mais irmã, mais neta, mais amiga,mais cidadã, mais humana, mais mulher ...
Na terapia fiz uma analogia que nunca pensei muito mas que realmente retrata o que eu passei e o que vem por ai:
"Eu vivia numa mansão, cheia de coisas que eu não precisava, de espaços que eu não utilizava. Minha mansão vivia em festa, era frequentada por tanta gente que eu achava que estavam la por mim e como aquilo tudo me fazia bem, fazia bem para o meu ego, me dava segurança, nunca questionei nada. Os problemas eu chorava escondida pq tinha uma imagem a zelar ...
De repente veio um tsunami. Onda altas e fortes derrubaram a mansão, levaram tudo e todos que estavam por la mas não me levou. Quando essas ondas se recolheram e eu fui ver o que sobrou. Vi muita sujeira no chão, muita lama, muitas coisas quebradas, coisas que realmente não davam mais para aproveitar.
Olhei pra mansão e ela estava no chão, acabada. Dela só havia sobrado o quartinho dos fundos, uma casinha pequena, que poucas coisas que cabiam na mansão podiam ser levadas e era la que eu precisava refazer minha vida.
Hj eu ando pela lama separando o que não cabe mais naquele espaço e lavando as poucas coisas que me interessam, que me completam, que me fazem bem e que cabem direitinho no meu novo lar. E to vendo que realmente não preciso de muito"
E sim, eu estou muito feliz!
(O tratamento acabou, agora entro na fase que eu chamo de doença cronica pois vai me fazer tomar remedio todos os dias mas o "coisa ruim" ja foi. Junto com isso vem a parte mais punk para o psicológico, os exames. A incerteza, o medo e a ansiedade batem de frente com a certeza de que tudo acabou.)
Não deu para não pensar naquela "coincidencia".
Foi como um ciclo que se fechou, teve um começo, um meio e um fim, sim um fim, porque eu acredito e confio demais que ele realmente chegou.
Pensei nas mudanças da vida, na "Renata" que se foi e na "Renata" que nasceu.
Lamentei as perdas mas comemorei cada ganho (que foram vários, incontáveis eu diria).
Tomei consciencia que aprendi em um ano e meio o que não aprendi em 35 anos de vida.
Entendi coisas que antes não entendia, ou que eu não fazia questão de entender.
Me tornei um ser humano melhor sim (pelo menos para mim).
Aprendi sobre família, sobre amigos, sobre trabalho, sobre alimentação, sobre sonhos, sobre dedicação, sobre persistencia, sobre levar a vida de forma mais positiva.
Me tornei mais filha, mais irmã, mais neta, mais amiga,mais cidadã, mais humana, mais mulher ...
Na terapia fiz uma analogia que nunca pensei muito mas que realmente retrata o que eu passei e o que vem por ai:
"Eu vivia numa mansão, cheia de coisas que eu não precisava, de espaços que eu não utilizava. Minha mansão vivia em festa, era frequentada por tanta gente que eu achava que estavam la por mim e como aquilo tudo me fazia bem, fazia bem para o meu ego, me dava segurança, nunca questionei nada. Os problemas eu chorava escondida pq tinha uma imagem a zelar ...
De repente veio um tsunami. Onda altas e fortes derrubaram a mansão, levaram tudo e todos que estavam por la mas não me levou. Quando essas ondas se recolheram e eu fui ver o que sobrou. Vi muita sujeira no chão, muita lama, muitas coisas quebradas, coisas que realmente não davam mais para aproveitar.
Olhei pra mansão e ela estava no chão, acabada. Dela só havia sobrado o quartinho dos fundos, uma casinha pequena, que poucas coisas que cabiam na mansão podiam ser levadas e era la que eu precisava refazer minha vida.
Hj eu ando pela lama separando o que não cabe mais naquele espaço e lavando as poucas coisas que me interessam, que me completam, que me fazem bem e que cabem direitinho no meu novo lar. E to vendo que realmente não preciso de muito"
E sim, eu estou muito feliz!
(O tratamento acabou, agora entro na fase que eu chamo de doença cronica pois vai me fazer tomar remedio todos os dias mas o "coisa ruim" ja foi. Junto com isso vem a parte mais punk para o psicológico, os exames. A incerteza, o medo e a ansiedade batem de frente com a certeza de que tudo acabou.)
sábado, 5 de julho de 2014
A COPA QUE PARTICIPEI
Estamos chegando ao fim da Copa do Mundo, faltam apenas 7 dias ou 4 jogos para ser mais exato.
Quem é apaixonado por futebol como eu deve saber a tristeza que vai batendo, isso aumenta ainda mais para quem gosta de uma bagunça (eu).
Para quem acompanhou de perto a "Babel" que o país se transformou, como eu pude acompanhar passando todos os dias pela Avenida Paulista desde que a gringolandia se estabeleceu por aqui, a tristeza ja corroi o coração.
Foram dias incríveis de acompanhar a alegria sem precedentes dos povos que por aqui passaram, dos olhos curiosos desvendando a avenida e as pessoas que por ela circulam diariamente.
Festival de máquinas fotográficas, bares lotados de gente tomando cerveja às 11hs da manhã (ai como é bom ser turista), gritos de guerra, musicas locais, festival de cores em camisas e bandeiras ...
Foi maravilhoso ver aqueles quase 3 km de avenida sendo tomada por gente do mundo todo: europeus, africanos, americanos, asiaticos tudo junto e misturado.
Os paulistas andavam pela paulista sem pressa, sorrindo, sendo prestativo. A noite a avenida era uma festa.
Eu vacilei e não participei da festa da Copa como gostaria, indo nos estadios, mas participei muito dessa festa de povos que só um evento como esse proporciona.
Tive medo da Copa aqui por tudo que a gente sabe e que não vale a pena repetir, fui contra a Copa mas me rendi. "Paguei minha língua", me surpreendi com tudo de positivo que vi e graças a Deus posso admitir, eu errei!
Lindo e emocionante ver que o mundo enxergou tudo aquilo que eu testemunhei de perto, que orgulho saber que o povo brasileiro não é aquele que os jornais estavam noticiando meses antes do evento.
Cheguei a chorar dentro do metro vendo as torcidas indo pro estádio, sensação que não sei descrever (to chorando agora também), um misto de orgulho em saber que fiz parte daquilo (usei meu espanhol meia boca pra ajudar algumas pessoas, tirei foto com gringos, brinquei com outros no meio da rua), de inveja em não ir para o estádio e de raiva por ter sido burra e duvidar que aquilo era possível sim e até melhor.
Agora a cidade esta voltando ao normal, o metro não esta mais tão alegre, a Paulista voltou ao seu ritmo frenetico de pessoas correndo e não olhando pro lado mas quem viu essa festa como eu vi certamente não será mais a mesma pessoa quando se lembrar que o mundo é um só e que somos todos parte dele
Quem é apaixonado por futebol como eu deve saber a tristeza que vai batendo, isso aumenta ainda mais para quem gosta de uma bagunça (eu).
Para quem acompanhou de perto a "Babel" que o país se transformou, como eu pude acompanhar passando todos os dias pela Avenida Paulista desde que a gringolandia se estabeleceu por aqui, a tristeza ja corroi o coração.
Foram dias incríveis de acompanhar a alegria sem precedentes dos povos que por aqui passaram, dos olhos curiosos desvendando a avenida e as pessoas que por ela circulam diariamente.
Festival de máquinas fotográficas, bares lotados de gente tomando cerveja às 11hs da manhã (ai como é bom ser turista), gritos de guerra, musicas locais, festival de cores em camisas e bandeiras ...
Foi maravilhoso ver aqueles quase 3 km de avenida sendo tomada por gente do mundo todo: europeus, africanos, americanos, asiaticos tudo junto e misturado.
Os paulistas andavam pela paulista sem pressa, sorrindo, sendo prestativo. A noite a avenida era uma festa.
Eu vacilei e não participei da festa da Copa como gostaria, indo nos estadios, mas participei muito dessa festa de povos que só um evento como esse proporciona.
Tive medo da Copa aqui por tudo que a gente sabe e que não vale a pena repetir, fui contra a Copa mas me rendi. "Paguei minha língua", me surpreendi com tudo de positivo que vi e graças a Deus posso admitir, eu errei!
Lindo e emocionante ver que o mundo enxergou tudo aquilo que eu testemunhei de perto, que orgulho saber que o povo brasileiro não é aquele que os jornais estavam noticiando meses antes do evento.
Cheguei a chorar dentro do metro vendo as torcidas indo pro estádio, sensação que não sei descrever (to chorando agora também), um misto de orgulho em saber que fiz parte daquilo (usei meu espanhol meia boca pra ajudar algumas pessoas, tirei foto com gringos, brinquei com outros no meio da rua), de inveja em não ir para o estádio e de raiva por ter sido burra e duvidar que aquilo era possível sim e até melhor.
Agora a cidade esta voltando ao normal, o metro não esta mais tão alegre, a Paulista voltou ao seu ritmo frenetico de pessoas correndo e não olhando pro lado mas quem viu essa festa como eu vi certamente não será mais a mesma pessoa quando se lembrar que o mundo é um só e que somos todos parte dele
quarta-feira, 25 de junho de 2014
ATUALIZANDO ...
Nem tinha percebido que fazia tanto tempo que não aparecia por aqui mas com a proximidade do final do tratamento a vida vai voltando ao normal, embora não mais a mesma, e outras coisas vão ocupando a cabeça.
Falando em vida normal, logo que acabou a quimio fui a um show, encontrei amigos queridos, me diverti muito, bebi uma cervejinha e a sensação dessa normalidade me deixou feliz como a muito não ficava.
Maaaaassss o tratamento ainda não acabou apenas mudou de fase.
Sim, minha vida é quase que como um jogo do Mario Bross: mato o chefão e mudo de fase até o dia de encontrar a princesa (cura) que, graças a Deus, esta cada dia mais perto.
Agora atualizando:
O término das quimios brancas não foi mega tranquilo, senti e ainda sinto muita dor no corpo.
No começo as pernas pareciam pesar 200kg, não subia dois lances de escada nem a pau, sentar no chão e levantar era tarefa árdua, as unhas doiam e quebravam mas passou.
Fiz ate um exame que só idosos fazem para ver como estão os meus ossos e ta tudo bem!
Os cabelos voltaram, as sobrancelhas ja apontam mas os cilios ainda estão passeando.
Comecei a radioterapia, serão 28 sessões e ja estou na 15.
Essa é sim uma etapa super tranquila, funciona quase que quando vamos tirar um raio-x e o único efeito colateral é que a parte irradiada vai ficando com aparencia de queimada mas também é temporário.
Só é cansativo ir no hospital todos os dias mas la eu bato tanto papo que me divirto e também volto a ter um pouco de rotina, pq sinceramente esqueci o que é isso
Tem outras coisas acontecendo, bem boas mas ainda não é a hora de contar
Volto logo!

Maaaaassss o tratamento ainda não acabou apenas mudou de fase.
Sim, minha vida é quase que como um jogo do Mario Bross: mato o chefão e mudo de fase até o dia de encontrar a princesa (cura) que, graças a Deus, esta cada dia mais perto.
Agora atualizando:
O término das quimios brancas não foi mega tranquilo, senti e ainda sinto muita dor no corpo.
No começo as pernas pareciam pesar 200kg, não subia dois lances de escada nem a pau, sentar no chão e levantar era tarefa árdua, as unhas doiam e quebravam mas passou.
Fiz ate um exame que só idosos fazem para ver como estão os meus ossos e ta tudo bem!
Os cabelos voltaram, as sobrancelhas ja apontam mas os cilios ainda estão passeando.
Comecei a radioterapia, serão 28 sessões e ja estou na 15.
Essa é sim uma etapa super tranquila, funciona quase que quando vamos tirar um raio-x e o único efeito colateral é que a parte irradiada vai ficando com aparencia de queimada mas também é temporário.
Só é cansativo ir no hospital todos os dias mas la eu bato tanto papo que me divirto e também volto a ter um pouco de rotina, pq sinceramente esqueci o que é isso
Tem outras coisas acontecendo, bem boas mas ainda não é a hora de contar
Volto logo!
quinta-feira, 8 de maio de 2014
MENOS 8 - KBOOO
(esperei passar os dias criticos, aqueles em que a imunidade cai muito, para escrever)
Talvez esse seja o post mais esperado mesmo sabendo que o blog ainda vai longe mas acabar a quimioterapia é vencer a pior parte dessa batalha.
Não lembro se falei sobre isso mas meu maior medo, quando ter câncer ainda era uma possibilidade, era justamente a quimioterapia.
Lembro de só chorar e falar que eu não ia aguentar porque as pessoas que passavam por isso sofriam demais, aquilo tudo que a gente ouve por ai.
Talvez eu não tenha falado pra ninguém mas eu tinha quase certeza que não aguentaria.
Sempre fui muito mole, qualquer enjoozinho me deixava agarrada ao vaso sanitário, eu me entregava a qualquer gripezinha ... eu não ia conseguir :(
Veio o resultado da biópsia, já não dava pra voltar atras.
Eu tinha duas opções ou me tratava ou morria, não tinha o que pensar.
Deu uma reviravolta na cabeça da pessoa, não fazer quimioterapia não era uma opção, eu queria. Ja que eu tinha que passar por isso que fosse 100%, que fosse de "cabeça".
Bora matar qualquer vestigio desse bicho.
Perder o cabelo não me dava medo, alias procurei curtir isso desde que descobri a doença tanto que pintei o cabelo de vermelho e cortei curtinho.
O médico me disse que talvez eu nem precisasse de quimio mas como ele é super a favor eu nem pensei na possibilidade de não fazer.
Fui la, fiz e fui tão abençoada que foi super tranquilo:
- enjoos leves, nada de querer ¨morrer¨(ja tive enjoos bem mais fortes em dias de ressaca)
- zero vômitos (tirando o dia que eu comi a geladeira e fui no Mc Donalds, ambos depois de sair da quimio)
- nenhuma queda de imunidade que me impedisse de fazer alguma quimio marcada
- nenhuma internação
- zero febre
- zero perda de apetite (muito pelo contrario, diga-se de passagem)
- nenhum peso perdido (vários pesos ganhos)
- nenhuma noite de insonia
Conclusão: nenhum dos efeitos colaterais que me davam medo.
Passou, acabou.
Ainda tenho um tratamento longo pela frente: radioterapia, hormonoterapia por 5 anos mas o mais temido passou.
Enquanto escrevia esse post pensava o quanto minha vida tomou outro rumo, o quanto eu precisava ter esse bicho. Aprendi muito e se não fosse ele talvez eu ainda seria aquela Renata que eu era até entrar nesse turbilhão:
- aprendi a ter calma
- aprendi a ouvir
- meus medos diminuiram
- aprendi que não tenho controle de nada, de ninguem
- é cliche mas tive a certeza que só temos o hoje (aliás descobri que os maiores clichês são realmente verdadeiros)
- descobri o que é amor verdadeiro e que esse amor pode vir de onde a gente menos espera
- descobri o que é a amizade verdadeira
- (mais uma verdade) você só conhece quem são as pessoas que se importam com você quando as coisas vão mal. Gente que não falava ha anos se aproximou de mim assim como gente que eu falava toda semana nunca nem perguntou como eu estava.
- senti na pele que parente não é família
- aprendi que as amizades feitas pela tela do computador podem sim ser verdadeiras. Descobri que a maior afinidade dessas pessoas é o coração.
- consegui listar todos os meus defeitos e assim me dei conta do quanto ja errei com os outros
- aprendi que sozinho não somos ninguém e que ajudar o outro te torna mais forte
- cresci, amadureci e, pelo menos pra mim, me tornei alguém melhor
- minha crença de que só somos completos se estivermos em equilibrio corpo, mente e alma só se fortaleceu assim como a minha certeza que cabeça saudavel é um passo importante para a cura
- e o melhor de tudo: descobri, aprendi e vi o quanto é importante ter fé
Outro dia me perguntaram o que o câncer me trouxe de ruim, não soube responder.
Serio, eu não sei!
Foram tantas mudanças boas, tantas descobertas gratificantes que, juntando com minha reação positiva diante do tratamento, eu não consigo achar nada de ruim.
Talvez perder a sobrancelha? Talvez, porque a careca eu curti.
E de tudo que eu ganhei nessa fase o mais importante foram as amizades que eu fiz e que são especiais porque "só a gente se entende" e talvez se não tivesse passado por tudo isso jamais as teria conhecido.
Ainda vou precisar muito da força de vocês, assim como vocês vão poder contar muito com a minha.
Obrigada por essa união "de peito": Andreia, Beth, Camila, Renata, Sabrina, Silvania, Flavia, Cris, Karina, Valéria ...
(esqueci de alguem? Ah, vocês sabem que a quimio acaba com a memória né?rs)
Talvez esse seja o post mais esperado mesmo sabendo que o blog ainda vai longe mas acabar a quimioterapia é vencer a pior parte dessa batalha.
Não lembro se falei sobre isso mas meu maior medo, quando ter câncer ainda era uma possibilidade, era justamente a quimioterapia.
Lembro de só chorar e falar que eu não ia aguentar porque as pessoas que passavam por isso sofriam demais, aquilo tudo que a gente ouve por ai.
Talvez eu não tenha falado pra ninguém mas eu tinha quase certeza que não aguentaria.
Sempre fui muito mole, qualquer enjoozinho me deixava agarrada ao vaso sanitário, eu me entregava a qualquer gripezinha ... eu não ia conseguir :(
Veio o resultado da biópsia, já não dava pra voltar atras.
Eu tinha duas opções ou me tratava ou morria, não tinha o que pensar.
Deu uma reviravolta na cabeça da pessoa, não fazer quimioterapia não era uma opção, eu queria. Ja que eu tinha que passar por isso que fosse 100%, que fosse de "cabeça".
Bora matar qualquer vestigio desse bicho.
Perder o cabelo não me dava medo, alias procurei curtir isso desde que descobri a doença tanto que pintei o cabelo de vermelho e cortei curtinho.
O médico me disse que talvez eu nem precisasse de quimio mas como ele é super a favor eu nem pensei na possibilidade de não fazer.
Fui la, fiz e fui tão abençoada que foi super tranquilo:
- enjoos leves, nada de querer ¨morrer¨(ja tive enjoos bem mais fortes em dias de ressaca)
- zero vômitos (tirando o dia que eu comi a geladeira e fui no Mc Donalds, ambos depois de sair da quimio)
- nenhuma queda de imunidade que me impedisse de fazer alguma quimio marcada
- nenhuma internação
- zero febre
- zero perda de apetite (muito pelo contrario, diga-se de passagem)
- nenhum peso perdido (vários pesos ganhos)
- nenhuma noite de insonia
Conclusão: nenhum dos efeitos colaterais que me davam medo.
Passou, acabou.
Ainda tenho um tratamento longo pela frente: radioterapia, hormonoterapia por 5 anos mas o mais temido passou.
Enquanto escrevia esse post pensava o quanto minha vida tomou outro rumo, o quanto eu precisava ter esse bicho. Aprendi muito e se não fosse ele talvez eu ainda seria aquela Renata que eu era até entrar nesse turbilhão:
- aprendi a ter calma
- aprendi a ouvir
- meus medos diminuiram
- aprendi que não tenho controle de nada, de ninguem
- é cliche mas tive a certeza que só temos o hoje (aliás descobri que os maiores clichês são realmente verdadeiros)
- descobri o que é amor verdadeiro e que esse amor pode vir de onde a gente menos espera
- descobri o que é a amizade verdadeira
- (mais uma verdade) você só conhece quem são as pessoas que se importam com você quando as coisas vão mal. Gente que não falava ha anos se aproximou de mim assim como gente que eu falava toda semana nunca nem perguntou como eu estava.
- senti na pele que parente não é família
- aprendi que as amizades feitas pela tela do computador podem sim ser verdadeiras. Descobri que a maior afinidade dessas pessoas é o coração.
- consegui listar todos os meus defeitos e assim me dei conta do quanto ja errei com os outros
- aprendi que sozinho não somos ninguém e que ajudar o outro te torna mais forte
- cresci, amadureci e, pelo menos pra mim, me tornei alguém melhor
- minha crença de que só somos completos se estivermos em equilibrio corpo, mente e alma só se fortaleceu assim como a minha certeza que cabeça saudavel é um passo importante para a cura
- e o melhor de tudo: descobri, aprendi e vi o quanto é importante ter fé
Outro dia me perguntaram o que o câncer me trouxe de ruim, não soube responder.
Serio, eu não sei!
Foram tantas mudanças boas, tantas descobertas gratificantes que, juntando com minha reação positiva diante do tratamento, eu não consigo achar nada de ruim.
Talvez perder a sobrancelha? Talvez, porque a careca eu curti.
E de tudo que eu ganhei nessa fase o mais importante foram as amizades que eu fiz e que são especiais porque "só a gente se entende" e talvez se não tivesse passado por tudo isso jamais as teria conhecido.
Ainda vou precisar muito da força de vocês, assim como vocês vão poder contar muito com a minha.
Obrigada por essa união "de peito": Andreia, Beth, Camila, Renata, Sabrina, Silvania, Flavia, Cris, Karina, Valéria ...
(esqueci de alguem? Ah, vocês sabem que a quimio acaba com a memória né?rs)
sábado, 19 de abril de 2014
MENOS 6, MENOS 7 ... TA ACABANDO

Não escrevi sobre a sexta sessão pq tirando o cansaço que ja falei das outras vezes, graças a Deus não senti nada.
Ta, senti um pouco de desconforto no nariz que ficou muito seco e sangrou muito me deixando assustada algumas vezes mas o médico disse que é assim mesmo.
Agora que só falta uma o que sinto é ansiedade.
Ta acabando, a vida ta voltando ao normal e em alguns aspectos assusta um pouco ...
A licença vai até agosto mas logo agosto ta ai!
Ja fui a shows,fiquei duas horas em fila de exposição, tomei minha cervejinha, chuva ...
Ta voltando ao normal mas não sera como antes, disso eu sei.
E quer saber? Só tenho a agradecer por isso.

Agora to esperando pelo fim, o tão esperado fim de pelo menos mais uma etapa (a mais difícil)
Foi rápido, foi intenso mas foi preciso ...
sexta-feira, 11 de abril de 2014
O CÂNCER ME ENSINANDO SOBRE A VIDA
Ter que encarar o "bicho" é ter que encarar a vida como um todo, não tem jeito.
Não tem como passar pelo que eu passei, e ainda passo, e não reavaliar muitas coisas. Não tem como não "recalcular a rota", como costumo dizer, em cada área da vida.
Eu sempre fui muito crítica e às vezes até maldosa (não que fosse um comportamento que eu gostasse, algo que me fizesse bem mas era mais forte do que eu).
Julguei algumas (várias) vezes, sempre tive opinião pra tudo e claro que sempre queria que a minha fosse a certa.
Esse assunto foi levado várias vezes para a terapia mas nunca deu muito resultado ...
Quando comecei a usar o twitter, quando a rede social começou a fazer parte da minha vida, foi através de pessoas bacanas que conheci por la que fui vendo como esse meu lado não era legal e como as pessoas que fazem essas coisas me incomodam muito ... e olha que para que escrever esse texto estou só pensando em estética.
Criticas sobre cor do batom, formato de sobrancelhas, calça assim é feia, saia assim é brega, entre tantas outras coisas ...
Claro que eu entrei várias vezes na onda mas depois me dava o cinco minutos de lucidez e arrependimento.
Há alguns anos aconteceu comigo uma situação que eu deveria trazer sempre à tona quando resolvesse fazer algum comentário maldoso sobre os gostos das pessoas. Uma vez comentei com a menina que estava limpando um stand que eu estava trabalhando que estava com muito frio, que eu sou muito friorenta e não sabia como ela conseguia trabalhar com sandalias naquela temperatura. A resposta? "Frio eu sinto mas esse é meu único sapato" ...
Voltando à minha condição atual.
Estava outro dia com a Flavia Flores e ela me falou que iria postar na página dela, que é voltada para pacientes oncológicos, a história de uma mulher com câncer de mama e sua companheira mas que de certa forma ela estava preocupada com possíveis comentários homofóbicos.
Na mesma hora, eu com meu jeitinho meigo de ser, mandei: "pqp, as chances das pessoas que lerem isso na sua página terem tido, ou terem, câncer é imensa. Serio mesmo que nego recebe a morte na porta de casa e ainda vai ter tempo de ser homofóbico?"
Percebi que realmente ja estava revendo meus conceitos em função da doença, esse pensamento servia para tudo. Criticar comportamento, roupas, achar errado quem não é como você acha que deveria ser (oi?) depois de passar por uma doença que te coloca cara a cara com a mulher da foice? Que coisa pequena ...
Não deixei de ter opiniões, de ter gostos mas são meus e não são certos ou errados, assim como dos outros são pessoais e ninguem tem nada a ver com isso.
A vontade de escrever tudo isso surgiu no dia em que critiquei a roupa de uma pessoa em uma rede social e uma amiga "meique"me deu um toque de que aquilo não era legal, e eu, como estou mudada (mas não muito) ja tinha me arrependido da "brincadeira".
Bom, logo em seguida fui me trocar para sair e minha mãe fez um comentário, sem maldade tenho certeza, que eu tinha engordado muito. Sei que ela quis dizer que eu inchei pois essa é uma reação bem desagradável da quimio e realmente chama a atenção pois a 2 meses atrás eu era magra, porém, mesmo sabendo de tudo isso, fiquei bem putinha ...
Depois fui pintar minhas sobrancelhas ja que tenho apenas 5 fios de cada lado e são elas que me deixam (ou não) com cara de doente e fiquei bem irritada pq ficou "meicagada", pq da trabalho, pq não é facil desenhar à mão livre algo que até o começo do mês estava la.
Lembrei das cuidadoras da sobrancelha alheia que ja encontrei por ai e parei pra pensar que quem olha pra mim na rua nem imagina que eu esteja fazendo quimioterapia, então será que aquela gorda na rua, aquela mulher de sobrancelha cagada também não está?
Quem de nós tem escrito na cara os problemas que está enfrentando?
Lembrei da menina dos sapatos, lembrei que ja vi gente dizendo que não ia almoçar pq estava de regime e na verdade não tinha dinheiro naquele dia.
Cheguei a conclusão que não virei Madre Tereza mas sim, o câncer esta me ensinando muito sobre a vida.
Não tem como passar pelo que eu passei, e ainda passo, e não reavaliar muitas coisas. Não tem como não "recalcular a rota", como costumo dizer, em cada área da vida.
Eu sempre fui muito crítica e às vezes até maldosa (não que fosse um comportamento que eu gostasse, algo que me fizesse bem mas era mais forte do que eu).
Julguei algumas (várias) vezes, sempre tive opinião pra tudo e claro que sempre queria que a minha fosse a certa.
Esse assunto foi levado várias vezes para a terapia mas nunca deu muito resultado ...
Quando comecei a usar o twitter, quando a rede social começou a fazer parte da minha vida, foi através de pessoas bacanas que conheci por la que fui vendo como esse meu lado não era legal e como as pessoas que fazem essas coisas me incomodam muito ... e olha que para que escrever esse texto estou só pensando em estética.
Criticas sobre cor do batom, formato de sobrancelhas, calça assim é feia, saia assim é brega, entre tantas outras coisas ...
Claro que eu entrei várias vezes na onda mas depois me dava o cinco minutos de lucidez e arrependimento.
Há alguns anos aconteceu comigo uma situação que eu deveria trazer sempre à tona quando resolvesse fazer algum comentário maldoso sobre os gostos das pessoas. Uma vez comentei com a menina que estava limpando um stand que eu estava trabalhando que estava com muito frio, que eu sou muito friorenta e não sabia como ela conseguia trabalhar com sandalias naquela temperatura. A resposta? "Frio eu sinto mas esse é meu único sapato" ...
Voltando à minha condição atual.
Estava outro dia com a Flavia Flores e ela me falou que iria postar na página dela, que é voltada para pacientes oncológicos, a história de uma mulher com câncer de mama e sua companheira mas que de certa forma ela estava preocupada com possíveis comentários homofóbicos.
Na mesma hora, eu com meu jeitinho meigo de ser, mandei: "pqp, as chances das pessoas que lerem isso na sua página terem tido, ou terem, câncer é imensa. Serio mesmo que nego recebe a morte na porta de casa e ainda vai ter tempo de ser homofóbico?"
Percebi que realmente ja estava revendo meus conceitos em função da doença, esse pensamento servia para tudo. Criticar comportamento, roupas, achar errado quem não é como você acha que deveria ser (oi?) depois de passar por uma doença que te coloca cara a cara com a mulher da foice? Que coisa pequena ...
Não deixei de ter opiniões, de ter gostos mas são meus e não são certos ou errados, assim como dos outros são pessoais e ninguem tem nada a ver com isso.
A vontade de escrever tudo isso surgiu no dia em que critiquei a roupa de uma pessoa em uma rede social e uma amiga "meique"me deu um toque de que aquilo não era legal, e eu, como estou mudada (mas não muito) ja tinha me arrependido da "brincadeira".
Bom, logo em seguida fui me trocar para sair e minha mãe fez um comentário, sem maldade tenho certeza, que eu tinha engordado muito. Sei que ela quis dizer que eu inchei pois essa é uma reação bem desagradável da quimio e realmente chama a atenção pois a 2 meses atrás eu era magra, porém, mesmo sabendo de tudo isso, fiquei bem putinha ...
Depois fui pintar minhas sobrancelhas ja que tenho apenas 5 fios de cada lado e são elas que me deixam (ou não) com cara de doente e fiquei bem irritada pq ficou "meicagada", pq da trabalho, pq não é facil desenhar à mão livre algo que até o começo do mês estava la.
Lembrei das cuidadoras da sobrancelha alheia que ja encontrei por ai e parei pra pensar que quem olha pra mim na rua nem imagina que eu esteja fazendo quimioterapia, então será que aquela gorda na rua, aquela mulher de sobrancelha cagada também não está?
Quem de nós tem escrito na cara os problemas que está enfrentando?
Lembrei da menina dos sapatos, lembrei que ja vi gente dizendo que não ia almoçar pq estava de regime e na verdade não tinha dinheiro naquele dia.
Cheguei a conclusão que não virei Madre Tereza mas sim, o câncer esta me ensinando muito sobre a vida.
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